Paulistano treme pelo medo da chuva

Por: Fabio Pagotto
fabio.pagotto@diariosp.com.br

A chuva está deixando os paulistanos ansiosos e provocando mudança de hábitos em quem tem de lidar com as consequências dos temporais na cidade. Há quem esteja alterando horários de trabalho e mesmo cancelando compromissos quando o tempo começa a mostrar sinais de instabilidade. Segundo especialistas, esse é um comportamento que pode evoluir para doenças psiquiátricas com sintomas semelhantes ao da pluviofobia ou ombrofobia.

Na Pompeia, na Zona Oeste, fica um dos pontos que alagam facilmente. É o cruzamento entre as ruas Barão do Bananal e Venâncio Aires. A população da região já alterou a rotina devido aos alagamentos frequentes.

“Começa a chuva e eu sinto pavor”, disse a vendedora Vera Lúcia Jorge, de 45 anos, moradora há um mês na Rua Barão do Bananal. Nesse período ela já testemunhou quatro enchentes no local. “Já mudei a rotina. Ao menor sinal de chuva, já cancelo compromissos e não saio de casa. Se estiver fora, sei que não vou conseguir voltar”, diz Vera.

O cabeleireiro Sérgio Luiz Camargo, de 48 anos, mudou para a Rua Venâncio Aires há oito meses e, apesar de ser morador do bairro e conhecedor das enchentes, foi surpreendido pelas águas. “Sábado encheu como nunca vi”, disse Camargo. “Tive de improvisar uma comporta. Assim que o tempo muda já aviso aos clientes que é melhor eles irem embora”, falou.

Ansiedade / De acordo com a psicóloga clínica Maria Júlia Zimmermann, uma pessoa exposta a um evento traumático, como ficar preso muitas horas num congestionamento ou ter o carro alagado, pode desenvolver TAG (transtorno de ansiedade generalizada).

Maria foi a coordenadora do Grupo de Apoio para as Vítimas da Enchente que atendeu atingidos pelas cheias de 2008 em Blumenau, em Santa Catarina. Na ocasião, as enchentes deixaram cem mortos e mais de  50 mil desabrigados no estado.

“Quando exposta a uma situação dessas, dependendo da sensibilidade dela, a pessoa passa a ter uma crise de ansiedade grave, que pode evoluir para síndrome do pânico ou outro transtorno”, disse a psicóloga. “O tratamento é de terapia para reconstruir a confiança abalada”, afirmou.

QUE DOENÇA É ESSA?

Dois nomes, um mal

Pluviofobia ou ombrofobia são duas designações que definem o medo incontrolável da chuva ou de se molhar nela. Em casos mais raros, os portadores até idolatram dispositivos criados originalmente para a proteção contra intempéries, como guarda-chuva, toldos e chapéus.

Emissora resgata ouvintes nas tempestades da cidade

A SulAmérica Trânsito é a única rádio do país dedicada exclusivamente a cobrir as condições do tráfego, em São Paulo. Foi ao ar pela primeira vez em 12 de fevereiro de 2007, em 92,1 FM, e hoje conta com uma equipe de 17 jornalistas que cobrem trânsito 24 horas.

“Nas chuvas nos concentramos nos pontos tradicionais de alagamentos da cidade, além da meteorologia”, diz o diretor de jornalismo da rádio, Felipe Bueno, que também entra no ar, das 11h às 12h. “O retorno dos ouvintes é incrível, recebemos muitos agradecimentos”, fala Bueno.

Durante o dia a rádio mantém repórteres na zonas Sul, Norte, Leste e Oeste, que informam a toda hora sobre as condições do trajeto que está realizando. Nos horários de pico da manhã, meio-dia e final da tarde, um helicóptero também ajuda no trabalho. Cada repórter segue um roteiro de vias que tenham tráfego mais intenso.

Em colaboração próxima com os ouvintes, a rádio orienta os motoristas dos melhores caminhos da cidade. “As informações do ouvinte via e-mail, telefone ou mensagem de celular são checadas e então divulgadas no ar”, afirmou Bueno.

A rádio conta com as informações oficiais da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), do CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) e Defesa Civil, polícia, bombeiros e concessionárias das rodovias. Para Bueno, porém, o que dá o diferencial de eficiência nas informações da SulAmérica são as informações dos ouvintes e dos parceiros da rádio.

“A CET monitora 868 quilômetros de vias na cidade. Nosso monitoramento atinge os 17 mil quilômetros de vias da cidade por meio de uma parceria com o sistema da Maplink, que utiliza satélites”, afirmou Bueno.  Outra parceria da SulAmérica é com a empresa de informações meteorológicas Somar.

Depoimento

Carlos Alencar, editor-chefe do DIÁRIO

Nas seguras ondas do rádio

Não sou um sujeito de ter medo das coisas.  Mas as cenas de desespero e impotência de motoristas com seus carros submersos nas  enchentes das tardes diluvianas  de São Paulo me fizeram puxar o freio de mão. E, depois do sufoco que passei na última sexta-feira, mais ainda.

Após ter levado o meu filho ao podólogo, saí do Shopping Butantã debaixo de um  toró. Temendo pelo pior, no ato, liguei o rádio e sintonizei a Jovem Pan.  Para minha sorte, a apresentadora Patrícia Rizzo já havia acionado repórteres e ouvintes para darem informações sobre os trajetos intransitáveis. Naquela altura, às 15h, eram 12 ruas alagadas.

Como meu destino era o Tatuapé e soube que a Marginal Tietê tinha trecho inundado, imaginei pegar a Rua Oscar Americano em direção à Cidade Jardim.  Para meu alívio, um semáforo fechado e o relato de um ouvinte aflito de que o Túnel Max Feffer estava fechado, me levaram a arremeter e pegar o sentido oposto, rumo à Avenida Morumbi. A intenção era chegar à Avenida Ibirapuera e depois pegar a Bandeirantes. Era. Patrícia recebeu a ligação de um motorista informando que a região também estava inundada.

Como me encontrava ao lado do MorumbiShopping, mudei novamente de planos e decidi entrar na Rua Jaceru, virar na Avenida Morumbi, seguir pela Santo Amaro para chegar à Bandeirantes.

A decisão parecia acertada até ser alertado pela rádio de que havia um ponto de alagamento entre a Santo Amaro e a Bandeirantes. Sem pestanejar, deixei a via, me enfiei pelas ruas do Brooklin e consegui driblar as enormes poças para encarar o trânsito pesado da Bandeirantes, mas em asfalto – embora molhado – transitável e seguro.

Como diz o próprio jingle da emissora protetora do ouvinte, prestação de serviço é isso.


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